Posted: 09 Aug 2012 07:05 AM PDT
Um grupo de pesquisadores da Califórnia , liderados por Lawrence Lustig, conseguiu pela primeira vez, através de terapia gênica restaurar a audição de camundongos que têm surdez congênita causada pela ausência de uma proteína. O estudo foi publicado na revista Neuron e o resultado, sem dúvida, é música para todos aqueles que poderão no futuro beneficiar-se dessa pesquisa.
Recordando
A surdez congênita, aquela que já está presente ao nascimento, pode ter causas genéticas ou mais raramente ambientais, no caso, o ambiente uterino. Por exemplo, bebês nascidos de mães que tiveram rubéola durante o primeiro trimestre de gestação podem nascer com perda total ou parcial da audição. Por outro lado, existem várias dezenas de genes associados à surdez hereditária. Estima-se que nos Estados Unidos nascem cerca de 12.000 bebês por ano com deficiência auditiva total ou parcial. Esses dados não são conhecidos no Brasil.
Há casais de surdos que procuram o diagnóstico pré-implantação para selecionar preferencialmente embriões com deficiência auditiva – uma escolha associada a questionamentos éticos, que discuto nomeu livro gen Ética. A grande maioria de pessoas com surdez, no entanto, gostaria de restaurar a audição se houvesse um tratamento.
Como foi feita a pesquisa?
Os cientistas utilizaram um camundongo que nasce sem um gene responsável pela produção de uma proteína denominada VGLUT3 (do inglês vesicular glutamate transporter-3). Sem essa proteína, as células do ouvido interno não conseguem liberar um neurotransmissor denominado glutamato que transmite sinais sonoros para o cérebro. Através de terapia gênica – a estratégia dos pesquisadores foi de introduzir uma cópia normal do gene no ouvido interno desses camundongos. Para isso, o gene Vglut3 foi inserido em um vírus especial (adeno associated virus tipo 1 ou AAV1) e injetado no ouvido dos camundongos. Em alguns animais, logo após o nascimento e em outros após duas semanas de vida.
O que foi observado?
Através de sinais elétricos os cientistas puderam observar que os dois grupos de camundongos submetidos a terapia gênica respondiam a estímulos com sinais sonoros – do mesmo modo que camundongos normais – enquanto no grupo controle não havia resposta nenhuma.
Será possível transportar essa pesquisa para a clínica?
É a pergunta que todos se fazem. De acordo com o Dr. Lustig, o autor principal desse estudo, trata-se de um grande passo na direção de futuros tratamentos. “Talvez dentro de cinco anos”, avalia. O problema é que os camundongos com essa mutação comportam-se de modo diferente dos humanos. Enquanto nos animais esse gene está associado a surdez congênita, em seres humanos mutações nesse gene causam uma perda de sons de alta frequência na idade adulta. A boa notícia é que depois de tantos anos de descrédito a terapia gênica começa a colocar as manguinhas de fora e a esperança de transformar pesquisa em tratamento aumenta para inúmeras condições genéticas.
Por Mayana Zatz
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