sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Atividade física protege contra a doença de Alzheimer?


Posted: 23 Aug 2012 07:56 AM PDT

Pesquisas anteriores sugerem que a atividade física melhora a capacidade cognitiva e diminui o risco para doença de Alzheimer (DA). Sabemos também que a DA é causada pelo depósito de placas amiloides-beta (Ab) no cérebro, mas não sabemos como o exercício físico atua nos níveis dessas proteínas no cérebro e no sangue. Para tentar tirar isso a limpo, um grupo de cientistas australianos realizou um estudo para determinar se haveria uma associação entre a prática de atividade física e os níveis da proteína Ab no sangue e sua deposição no cérebro. A pesquisa que envolveu 546 participantes acaba de ser publicada na revista Molecular Psychiatry.

Recordando
Entre os casos de demência associados a idade – que  atingem cerca de 35 milhões de pessoas ao redor do mundo – a maioria é causada pela doença de Alzheimer (DA). Com o envelhecimento da população, o número de idosos tende a crescer cada vez mais e por isso há tanto interesse nas pesquisas sobre os mecanismos que possam prevenir ou retardar o aparecimento da DA.
O exercício físico seria potencialmente um deles.  Em camundongos transgênicos com DA, demonstrou-se que a atividade física diminui o depósito de placas amiloides e aumenta os níveis de enzimas (neprilisina e endopeptidase) que degradam os peptídeos Ab. Entretanto esse efeito ainda não havia sido demonstrado em humanos.

A genética da DA
Como já escrevi em colunas anteriores, a DA raramente é hereditária, isto é, transmitida de pai para filho. Os  casos isolados – que representam a grande maioria – dependem de uma herança multifatorial, isto é, uma interação entre variantes genéticas e o ambiente.  Uma das variantes genéticas que aumentam o risco é a APOE4. Quem tem uma cópia dessa variante tem um risco aumentado de vir a desenvolver a DA,  mas não há determinismo. Há inúmeras pessoas que têm essa variante e não desenvolveram a DA e vice-versa.

O que foi pesquisado nesse estudo desenvolvido na Austrália?
Os cientistas analisaram o efeito do exercício físico na quantidade de proteínas Ab no sangue e no cérebro em 546 voluntários com capacidade cognitiva preservada – com idades variando entre 60 e 95 anos – que foram divididos em fisicamente ativos ou inativos.

Qual foi o impacto do exercício físico nos voluntários fisicamente ativos em comparação aos sedentários?
Os resultados, que parecem contraditórios,  foram muito interessantes. No grupo fisicamente ativo, só foi observada redução dos níveis da proteína Ab no sangue nos indivíduos que não tinham a variante APOE4. Isso parece uma má notícia para os portadores dessa variante. Mas, por outro lado, os níveis cerebrais da proteína amiloide Ab estava diminuída justamente entre os indivíduos APOE4.  Isso é uma ótima notícia.

Como explicar esses resultados aparentemente conflitantes?
Uma das  hipóteses seria que o exercício físico diminuiria os níveis da proteína amiloide no cérebro de indivíduos portadores da variante APOE4,  mas que a  remoção dessa proteína no sangue seria pouco eficiente. Serão necessários novos estudos para comprovar essa hipótese, mas é importante lembrar que no caso da DA os depósitos de placas amiloides no cérebro é que são os grandes vilões. Por outro lado, enquanto os cientistas tentam entender melhor os mecanismos, esses resultados reforçam pesquisas anteriores acerca da importância do exercício físico para prevenir o declínio cognitivo. Ou seja, se você quer envelhecer com qualidade de vida, não seja sedentário. Acho que não falei nada de novo, não? Mas não custa repetir.
Por Mayana Zatz

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