Posted: 12 Jul 2012 08:10 AM PDT
Em junho a revista Science Translational Medicine publicou artigo sobre uma nova tecnologia capaz de desvendar o genoma de um feto no início da gravidez, sem necessidade de exames invasivos. Bastava coletar sangue da mãe e saliva do pai. Escrevi sobre isso no texto da semana passada quando discuti Gen ÉTICA e esportes. Quando li esse trabalho já achei uma injustiça que da mãe seria necessário o sangue enquanto do pai só a saliva. E agora nem isso. Pesquisadores americanos acabam de publicar um novo trabalho na revista Nature, segundo o qual é possível sequenciar o genoma do feto sem o DNA do pai. A vantagem, segundo eles, é que nem sempre se consegue amostras do pai biológico.
Como isso é possivel?
Durante a gestação, o sangue da mãe contem uma mistura do seu DNA e do feto que está gerando, pois ele libera células na circulação materna durante a gestação. A proporção relativa de sangue fetal aumenta com a idade gestacional. Além disso o feto possui também o DNA do pai. Trocando em miúdos, no sangue da mãe circula o seu próprio DNA (que não foi transmitido ao feto), o DNA materno transmitido ao feto e o DNA paterno presente no feto. Partindo dessa premissa, da análise do DNA e é claro – de complexos cálculos bioestatísticos -, é possível inferir qual o genoma do feto no sangue da mãe sem necessidade de coletar amostras do pai.
Quais seriam os prós e os contra desse novo método?
Os prós são a possibilidade de diagnosticar inúmeras doenças genéticas sem a necessidade de um exame invasivo. Por que fazê-lo se a interrupção da gestação não é permitida no Brasil me perguntam alguns? Não vou discutir isso aqui. A filosofia é a mesma do ultrasom na gravidez que é recomendado para todas as mulheres. Na grande maioria dos casos, o objetivo é tranquilizar a gestante. Por outro lado, esse novo método permitirá diagnosticar precocemente doenças graves e incuráveis ou aquelas onde o tratamento durante a gravidez pode ser muito importante, como por exemplo, a fenilcetonúria. Os futuros pais têm direito a ter essas informações.
E os contra?
Utilizar essa tecnologia para selecionar embriões com características não associadas com doenças, como por exemplo, habilidade para esportes, como discuti na coluna anterior.
Por outro lado, os autores do trabalho da Nature argumentam que a outra vantagem de não se utilizar o DNA do pai evitaria situações eticamente complicadas de não paternidade que podem chegar a 10%. Aliás, eu já havia comentado de maneira jocosa que essa era uma possibilidade antes de conhecer o trabalho da Nature.
Uma nova distorção?
Se o objetivo dessa tecnologia é diagnosticar precocemente doenças genéticas, ter o DNA do pai pode ser fundamental. Posso imaginar duas situações. A primeira, no caso de suspeita de uma doença recessiva, isto é, onde para ser afetado a pessoa precisa receber um gene defeituoso do pai e outra da mãe. Toda vez que se faz um diagnóstico como esse, é importante verificar se a mãe e o pai são portadores da mutação. É uma ferramenta poderosa para certificar-se que o resultado do exame genético está correto principalmente em um diagnóstico prénatal quando você não pode examinar pessoalmente o paciente. A outra situação é quando se encontra uma alteração nova no feto (que ainda não foi descrita). Como interpretá-la? É patogênica ou não? Se ela não estiver presente nos pais a dúvida continua. Mas descobrir-se que ela foi herdada da mãe ou do pai é uma informação que pode ser esclarecedora e principalmente tranquilizadora se eles são saudáveis. Relatei recentemente um exemplo que ilustra uma situação como essa.
Em resumo, mesmo com o risco de se descobrir uma falsa paternidade, sou da opinião que ter o DNA do pai em um momento extremamente delicado na vida da gestante, quando a rapidez do diagnóstico ou na interpretação dos resultados deve prevalecer, pode ser fundamental.
Por Mayana Zatz
|
Páginas
- Início
- Contato
- Xadrez
- DMD Distrofia Muscular de Duchenne
- Biblia online
- SDS - Somente Dark Skin
- Faculdades de Guarulhos
- Governo Municipal
- Câmara Municipal
- SAAE / Fácil
- Proguaru
- Serviço Funerário
- Secretaria de Cultura
- Secretaria de Trabalho
- Secretaria de Saúde
- Secretaria de Assistência Social
- Secretaria de Educação
Texto
Se não morre o homem que planta uma árvore ou escreve um livro, menos ainda o educador que semea no coração e escreve na alma - Berthold Brech
sexta-feira, 2 de novembro de 2012
Genoma do feto: pai não é mais necessário
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário