sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Como explicar as diferenças entre gêmeos idênticos?


Posted: 27 Jul 2012 05:34 AM PDT

Gêmeos idênticos ou monozigóticos (MZ) têm o mesmo genoma e compartilham o mesmo ambiente uterino. Entretanto, quem convive de perto  com gêmeos idênticos sabe que há muitas diferenças entre eles. O  mais intrigante é o caso de doenças genéticas ou malformações congênitas. Existem inúmeras situações de gêmeos MZ discordantes onde um é afetado e o outro não, como  lábio leporino, doenças psiquiátricas, estenose do piloro, entre outros. Se tanto o genoma como o ambiente são iguais, como explicar essas diferenças? É uma questão que sempre intrigou os geneticistas. Um trabalho recente realizado por cientistas australianos (publicado em julho na revista Genome Research) mostra resultados interessantes.

Como foi feita a pesquisa?
Os pesquisadores analisaram o perfil epigenético ao nascer  de 22 pares de gêmeos monozigóticos ( MZ) 12 pares de gêmeos dizigóticos (DZ) e recém-nascidos não aparentados. Compararam células de três tecidos: do sangue do cordão umbilical, da  placenta e do tecido do cordão.  Recordando, gêmeos MZ são aqueles resultantes da fecundação de um mesmo óvulo e espermatozoide e que depois de fecundado se divide em dois. Os gêmeos MZ podem compartilhar a mesma placenta ou estarem em placentas diferentes. Gêmeos dizigóticos (DZ) são aqueles resultantes da fecundação de dois  óvulos e dois espermatozoides. Geneticamente eles são comparáveis a irmãos nascidos em épocas diferentes podendo inclusive ser de sexos distintos. A diferença entre gêmeos DZ e irmãos não gêmeos é que eles são fecundados ao mesmo tempo, compartilham o mesmo útero simultaneamente e portanto nascem no mesmo dia.

O que é o perfil epigenético?
Alterações epigenéticas são modificações que ocorrem no DNA, mas que não alteram a sua estrutura e, portanto, não são transmitidos para a descendência. Por exemplo, o silenciamento e a ativação de genes é uma alteração epigenética – controlada por um mecanismo denominado metilação – que é muito importante na diferenciação dos tecidos. É como se  nas células de cada tecido tivéssemos milhares de lâmpadas (os genes). Em cada tecido algumas lâmpadas ficam acesas (genes ativos) e outras apagadas (genes silenciados) e isso difere de tecido para tecido.  No caso de gêmeos MZ é como se  fossem duas casas geminadas iguais e com o mesmo número de lâmpadas. Só que o número de lâmpadas acesas (ativadas) ou apagadas (silenciadas) difere entre um quarto e outro (os quartos seriam os diferentes tecidos) e uma casa e outra (cada uma representando um gêmeo).

O que foi observado nesse estudo?
Os cientistas analisaram cerca de 27.000 sítios de metilação – onde pode ocorrer silenciamento ou ativação de genes –  ao longo do genoma.  Olharam se os genes que estavam ‘ativados’ ou ‘silenciados’ eram comparáveis nos gêmeos idênticos. Surpreendentemente, embora o padrão era mais semelhante ente gêmeos MZ havia uma grande variabilidade e alguns diferiam mais do que irmãos não aparentados. Mais surpreendente ainda foi a observação de que gêmeos MZ que estavam na mesma placenta – e portanto supostamente em um ambiente uterino mais semelhante – diferiam mais que gêmeos MZ que estavam em placentas diferentes. Essa observação sugere que compartilhar o mesmo ambiente uterino não contribui para um padrão epigenético semelhante.

As diferenças entre gêmeos não aumentaram com a idade
Essa foi a terceira surpresa. Isto sugere que algumas características que só aparecem mais tarde ( como por exemplo cabelos brancos) poderiam já estar pré-determinadas ao nascimento.

Em resumo
Embora os próprios pesquisadores consideram que trata-se de um estudo piloto dado a pequena amostra  tanto de gêmeos quanto ao número de  sítios de metilação analisados ( que representam cerca de 0.1% do genoma)  o estudo sugere que o ambiente uterino e o acaso teria uma influência maior que o genoma nas diferenças entre gêmeos . Por exemplo, a posição no útero ou  a localização do cordão umbilical que poderia regular a quantidade de nutrientes que passam da mãe par ao feto são variáveis que poderiam ser importantes na ativação ou silenciamento de genes. Será interessante  acompanhar outros estudos com amostras maiores  para ver se esses dados serão confirmados ou não. Mas de qualquer modo isso confirma mais uma vez que possíveis  clones humanos -  que geraram tanta polêmica na época do nascimento da ovelha clonada Dolly- nunca serão iguais.
Por Mayana Zatz

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