quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Você quer sequenciar seu genoma ?


Posted: 14 Nov 2012 10:56 AM PST

Na semana passada me posicionei contra o sequenciamento do genoma de recém-nascidos ou crianças normais. Mas e adultos? Com a divulgação da nova pesquisa sobre os 1092 genomas de diferentes etnias, esse assunto voltou a ser discutido. Defendo que, a não ser no caso de doenças genéticas, essa decisão deve ser tomada por nós, quando adultos, e não por nossos pais, quando ainda somos crianças. No seu livro: The $ 1000 Genome, publicado em 2010, Kevin Davies avalia os impactos dessa nova revolução tecnológica. Você gostaria de sequenciar o seu genoma? Quais seriam os prós e os contra?

Os primeiros a terem seus genomas sequenciados foram Craig Venter e o James Watson
O custo na época era gigantesco, mas vamos convir que os dois tiveram uma participação fundamental em tudo que está ocorrendo hoje. James Watson – além  da descoberta da estrutura da dupla hélice do DNA em 1953, que lhe valeu o Prêmio Nobel em 1962, -  foi responsável no início, pelo projeto Genoma Humano que depois teve uma participação fundamental de Craig Venter à frente da empresa Celera. O que os seus genomas revelaram?

Venter descobriu que tinha olhos azuis  e variantes associadas a um comportamento antisocial
Além de tendência de ser dependente de drogas, Venter tem que eles chamam em inglês denovelty seeking genes ou genes que buscam novidades (na minha opinião uma variante que deve ser mais frequente em cientistas). Nenhuma dessas informações requer o sequenciamento de um genoma, concordam? Mas ele também descobriu que tem risco aumentado para  doença de Alzheimer (uma informação que não quero ter a meu respeito) e doença cardiovascular. Talvez a única informação útil é que ele é um metabolizador rápido de cafeína e portanto pode tomar doses altas sem sentir efeitos negativos. Também questiono se é necessário sequenciar o genoma para descobrir isso.

Watson não quis saber se tinha risco aumentado para doença de Alzheimer
Sua avó havia sido afetada por essa doença, mas ele descobriu que é um metabolizador lento de drogas antipsicóticas e betabloqueadores. Essa é uma informação que pode ser útil se ele tiver que tomar drogas para essa finalidade. Terá que tomar doses menores. Mas e se ele não tiver nunca que tomar essas drogas? Será que não seria mais fácil testar diretamente os genes envolvidos com o metabolismo dessas drogas do que analisar o genoma inteiro?

Os interesses comerciais estão sempre na vanguarda
Se por um lado, sequenciar um genoma hoje tem um custo relativamente baixo, interpretá-lo ainda teria um custo gigantesco. Na minha opinião, sequenciar o genoma de pessoas saudáveis, por divertimento para desvendar características físicas evidentes (como cor dos olhos, do cabelo, da pele ou tendência ou não para engordar) é colocar a carroça na frente dos burros. E nesse sentido o tempo é nosso aliado. O nosso DNA não vai mudar, mas o aprendizado que estamos obtendo tentando decifrá-lo tende a crescer dia a dia. Por exemplo, a pesquisa sobre os 1092 genomas de pessoas saudáveis com diferentes etnias revelou entre 130 a 400 variantes que alteram funções de proteínas. Sabemos agora que podemos ter essa variante e permanecermos saudáveis, uma informação que poderia trazer muitas dúvidas antes da análise desses 1092 genomas.

Será que quero sequenciar o meu próprio genoma?
Já me perguntaram várias vezes se já  fiz.  A resposta é não. E porque não? Sei que sou portadora de uma mutação no gene da fibrose cística, que em dose dupla é responsável por essa patologia. Mas meus filhos não herdaram essa mutação e, portanto, não preciso mais me preocupar com isso. Não quero saber se tenho risco aumentado para doença de Alzheimer. Iria me angustiar muito toda vez que esqueço algo. Não preciso saber se tenho risco aumentado para doença cardiovascular. Para quê? Procuro manter uma alimentação saudável e faço exercícios físicos. Não pretendo mudar esses hábitos em função de ter um risco aumentado ou diminuído para doença cardiovascular. Já sei qual é a cor dos meus olhos, cabelos e  pele e se tenho tendência ou não para engordar. Sei também quais são os efeitos da cafeína e quanto o meu organismo tolera café, sem necessidade de nenhuma informação genômica.
E você caro leitor? Está disposto a gastar 1000 dólares para ter essas informações?

Por Mayana Zatz

Nenhum comentário:

Postar um comentário